segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

[Em tempo de leitura] O casaco de Marx: Roupa, memória, dor

A emocionante obra"O casaco de Marx: roupa, memória, dor", de Peter Stallybrasstraduzido por Tomaz Tadeu,traça um panorama da poética e da vida social da roupa através de três ensaios que misturam teoria social e lirismo, histórias pessoais, literatura e teoria econômica. O autor, além de lançar mão de episódios de sua própria vida, percorre a vida precária de Marx (sim, Karl Marx) entre 1850 e 1860 para contar a trajetória do seu casaco quando escrevia O Capital.

Através das idas e vindas do casaco de Marx a loja de penhores, Stallybrass nos faz refletir sobre as complexas relações entre as coisas como objetos de uso que se moldam à nossa forma humana, como objetos aos quais imprimimos nossas marcas, como objetos que carregam nossa memória, e as coisas como mercadorias. 


O primeiro "A Vida Social das Coisas" 

Aborda sobre a relação da memória e roupas. Traz uma questão que é pouco pensada, as roupas daqueles que morrem. Não só como elas são forma de memória como também herança de família e aqueles que as recebem lidam com ela. Interessante observar como a roupa leva consigo a marca daqueles que a usaram, como a forma ou o cheiro. "As roupas são o traço, a marca que sobrevive ao corpo, elas são o nosso corpo que fica ligado ao nosso corpo que se vai. Mas notem que o autor estava falando de “roupas” e não de “moda”, com a qual infelizmente, muitas vezes, as confundimos. "(Fonte: Marcia Tiburi, Revista Cult 

"(...) Quando penso sobre roupas, repenso meu próprio trabalho sobre o início da Inglaterra moderna. Pensar sobre a roupa, sobre roupas, significa pensar sobre memória, mas também sobre poder e posse." (p. 12)


"as roupas são preservadas: elas permanecem. são os corpos que as habitam que mudam." (p. 29) 

" (...) não posso relembrar Allon White como uma ideia, mas apenas como os hábitos através dos quais eu o habito, através dos quais ele me habita e me veste. Eu conheço Allon através do cheiro de sua jaqueta." (p. 37) 


O segundo ensaio, que dá nome ao livro,"O Casaco de Marx" 


Fala sobre a relação do capitalismo com as roupas, discute sobre a transformação das roupas em mercadoria. 

"A mercadoria com a qual Marx começa O Capital—o casaco — tem apenas uma tênue relação como casaco que o próprio Marx vestia em suas idas ao Museu Britânico para pesquisar material para escrever O Capital. O casaco que Marx vestia entrava e saía da casa de penhores. Ele tinha usos bem específicos: conservar Marx aquecido no inverno; distingui-lo como um cidadão decente que pudesse entrar no salão de leitura do Museu Britânico. Mas o casaco, qualquer casaco, visto como um valor de troca, é esvaziado de qualquer função útil." (p. 41) 


O terceiro ensaio,"O mistério do Caminhar" 


Discorre sobre a representação do andar em diferentes peças clássicas. "Interessante ver como um estudioso de literatura comparada racionaliza sobre peças de diferentes séculos, como Édipo e Lear. A forma que ele compara como é o caminhar para cada um dos personagens e a sua importância e sua época." (Fonte: Lori, Skoob)


Nenhum comentário:

Postar um comentário