quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Biblioteca Menezes Pimentel ainda sofre sem ar-condicionados. Reforma foi, mais uma vez, prometida


Em março deste ano, a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel completa 146 anos. Criada como Biblioteca Provincial do Ceará, atualmente o acervo pertencente ao Estado conta com mais de 115 mil volumes e se divide em setores, entre eles, Infantil, Braile, Referência, Acervo Geral, Ceará e Obras Raras. Contudo, desde janeiro do ano passado o equipamento vem sofrendo com sérios problemas estruturais, que ameaçam não apenas o conforto de usuários e funcionários, mas também a vida útil de seu acervo.

Procurada na semana passada, a diretora da Menezes Pimentel, Enide Chaves, não pode receber a reportagem por problemas de saúde. Mas, segundo a coordenadora do Sistema Estadual de Bibliotecas, Aparecida de Lavor, na última quinta-feira, dia 31 de janeiro, técnicos do Departamento de Arquitetura e Engenharia do Estado do Ceará (DAE) visitaram o prédio: um indicativo de que a tão esperada reforma interna pode estar a caminho.

Situação

A falha nos ar-condicionados, noticiada em janeiro de 2012 em dois setores, agora já se alastra por todo o prédio. No calor fortalezense das 15 horas, somente o carinho sobre-humano de um usuário ou a obrigação de um funcionário os mantêm ali.

Confira aqui mais conteúdo exclusivo

Junior Menezes, de 37 anos, é autista e deficiente visual. Mora na Cidade 2000 e, de ônibus, segue para a biblioteca diariamente. Ali, conta com a amizade dos funcionários do setor de Braile para passar suas tardes, seja escrevendo poesias na reglete (equipamento usado para escrever em braile) ou tocando violão.

Cadeiras quebradas, buracos (inclusive no setor de Obras Raras) e muito calor: é o que se observa ao entrar na Biblioteca Menezes Pimentel. Informações sobre a reforma não foram repassadas até o fechamento desta edição Fotos: Jl rosa

Lúcia Frota e Marcos Rodrigues, responsáveis pelo setor, afirmam que existem, sim, alguns frequentadores assíduos como Junior, mas a falta de estrutura acaba os afastando.

"Temos duas impressoras em braile, que ficam disponíveis para imprimir trabalhos, mas uma delas está quebrada e isso há anos", afirmam.

Em todos os setores, janelas abertas e ventiladores tentam driblar o desconforto. No setor de Obras Gerais e Empréstimos, um usuário estuda ao lado de uma goteira, demasiado próxima dos livros. Os antigos aparelhos de ar-condicionado descansam entre as estantes, acumulando poeira e umidade nas proximidades do acervo.

O mau acondicionamento, no entanto, é ainda mais preocupante no setor de Obras Raras. O natural odor dos livros antigos, afetado pelo calor e pela falta de controle de umidade, torna a entrada no acervo um exercício penoso.

Apesar do esforço dos funcionários em restaurar e conservar raridades como um incunábulo "Éclogas, Bucólicas, Georgicas, Eneida" do poeta Virgilio, publicado em 1492, o lugar quente e abafado favorece, inclusive, o surgimento de mofo e traças.

Reforma
Segundo Aparecida de Lavor, as duas últimas grandes reformas internas pelas quais passou a Biblioteca Menezes Pimentel aconteceram nos anos de 1998 e 2002 - portanto, há mais de uma década.

Uma nova reforma foi prometida na gestão passada da Secretaria da Cultura do Estado (Secult). Com o ex-governador Francisco Pinheiro à frente, a secretaria ainda não conseguiu realizá-la, Estão previstos, principalmente, serviços hidráulicos e elétricos, além da instalação de um novo sistema de ar. O recurso para a obra deve provir da Secult e em nada está relacionado com o valor revertido para a integração da fachada da Biblioteca com o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, projeto que integra as ações da Virada Cultural de Cid Gomes para o CDMAC.

De acordo com Aparecida, provavelmente, não será feita nenhuma brusca transferência de acervo durante os trabalhos. "Estive aqui durante essas duas grandes reformas e já sabemos que conduta adotar durante esse tipo de serviço. Cobrimos e acondicionamos os livros para não precisar movê-los", afirma.

Informações como previsão de início, tipo de serviço e orçamento não foram repassadas porque nenhum dos envolvidos no projeto atenderam nossas ligações. Nem Régis Bonfim, engenheiro responsável pela reforma, segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Cultura do Estado; nem Robledo Valente, arquiteto responsável; ou mesmo Otávio Menezes, coordenador do Patrimônio Histórico Cultural.

Sol e umidade: os vilões dos livros
Verônica Lima Batista trabalha no setor de encadernação e restauro. É ela quem nos fala sobre os cuidados necessários a livros e documentos. "O que mais prejudica um livro é o mau acondicionamento. É preciso escolher bem o local: não pode ser quente, nem pegar sol ou fuligem. O ideal é que não tenha janelas abertas, já que a climatização freia o processo de deterioração do papel", detalha. É importante ainda observar as paredes. Uma infiltração pode gerar excesso de umidade e comprometer completamente um acervo. O sol, no entanto, é talvez o mais prejudicial. Segundo Verônica, se dois livros juntos, um maior e outro menor, forem expostos ao sol, em menos de um mês já se pode notar uma marca amarelada no livro maior com a justa medida do menor. "É a acidez do papel, que é provocada pelo sol". O restauro e a higienização das obras é um trabalho fundamental, porém bastante demorado, que exige, portanto, mão de obra. "Ano passado, tínhamos oito estagiários do programa primeiro emprego, do Governo. Quatro pela manhã e quatro à tarde. Mas, esse ano, o projeto ainda não foi renovado", conta.

MAYARA DE ARAÚJOREPÓRTER

Nenhum comentário:

Postar um comentário