Fonte: O POVO Online/OPOVO/Vida e Arte
Mais de dois anos após a inauguração, a Gibiteca de Fortaleza encontra-se em situação difícil. Mesmo com a promessa de melhorias em breve, o equipamento tem o acervo danificado pela má organização e é alvo de furtos
e novembro de 2010, a gibiteca perdeu cerca de 350 exemplares. Frequência de leitores está em queda (EDIMAR SOARES)
Quem entra no prédio verde-clarinho e já desbotado da Biblioteca Municipal Dolor Barreira tem de deixar a bolsa com um guarda para então seguir. No caminho até a Gibiteca de Fortaleza, que fica aos fundos do mesmo prédio, o visitante talvez encontre funcionários responsáveis por outras salas da biblioteca. Porém, quem visita a gibiteca poderá ficar até 20 minutos sem ser “incomodado” por ninguém. Não há orientação, nem vigilância.
A cena descrita aconteceu na última semana em visita a gibiteca para verificar como está a situação do equipamento. E não é apenas a ausência de funcionários que dá a gibiteca um ar de desordem.
Para solucionar um questionamento simples – quem responde pela Gibiteca de Fortaleza? – o usuário gastará alguns dias. A funcionária Lucila Mendes de Souza, que cobre um turno durante três dias da semana, toma para si a responsabilidade. A assessoria de imprensa da Secretária de Cultura de Fortaleza (Secultfor) a repassa para a diretora da Dolor Barreira, Herbênia Gurgel, que por sua vez passa a bola para o ex-coordenador de implantação do projeto da gibiteca, Paulo Amorim, que explica que hoje, após sua transferência para o Cuca Che Guevara, a gibiteca é gerida pelo coordenador de Políticas de Literatura, Livro e Leitura da Secultfor, Urik Paiva. E este resolve o imbróglio: é mesmo o responsável.
Iaugurada em 30 de abril de 2009, com um caráter embrionário e com recursos provenientes do Orçamento Participativo de 2006, a gibiteca ainda tem todo o acervo de gibis guardados em caixas metálicas de material de escritório. Para o professor do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador da Oficina de Quadrinhos da UFC, Ricardo Jorge, “não adianta investir no acervo, se não se investe no material de armazenamento”. “Não podem ser essas caixas furadas que danificam o gibi”, completa.
Além do armazenamento inadequado, há o problema com a classificação indicativa do acervo. Gibis infantis dividiam espaço com gibis eróticos adultos. A funcionária Lucila explica que era aquele “por falta de sorte” o dia em que ela retornava de suas férias e que nesse período a gibiteca foi organizada por estagiários da biblioteconomia. “Eles não sabem que não pode organizar gibi por ordem alfabética”.
Essa é uma reclamação de quem frequenta a gibiteca. “Não é de agora. Antes quando o (Paulo) Amoreira estava aqui (ele ficou como coordenador até o primeiro semestre de 2010) havia uma certa organização porque ele é do ramo. Mas as pessoas não passaram por um treinamento pra saber quais as diferenças de cada segmento e como manusear os gibis”, afirma o estudante de publicidade e frequentador assíduo da gibiteca, Márcio Moreira. “Não é abandono, é carência de pessoal e de dinheiro”, defende a diretora Herbênia.
Segundo Lucila, o acervo atual está em torno de seis mil exemplares. Cerca de 2.600 a mais que o acervo inicial. O aumento não é devido a novas compras, mas sim a doações. O número, contudo, deveria ser maior se não fossem os furtos. Estima-se que entre agosto e novembro de 2010, a gibiteca tenha perdido cerca de 350 exemplares. “Em novembro, eu desconfiei de um rapaz, ele estava com quatro gibis na parte de trás do cós da calça e seis em cada perna da calça”, relembra. A funcionária explica que os furtos eram de todos os tipos, “mangás, livros, revistas”. “Dos quatro V de Vingança que a gente tinha, só temos um. Sumiu também vários Sandman. São gibis esgotados”. A funcionária confirma uma queda de cerca de 75% no movimento da gibiteca.
A baixa no estoque, apesar de lamentável, é vista como normal por Urik Paiva. “É um problema recorrente em todas as bibliotecas. Sempre existe baixa de acervo por roubo”. No caso da gibiteca, o número de 350 exemplares tido como “razoável” equivale a 10,2% do acervo original.
Resoluções
No primeiro ano de gibiteca, semanalmente ocorriam palestras com pesquisadores e colecionadores do universo dos quadrinhos. Essa programação está parada, mas o Fórum dos Quadrinhistas Cearenses, um dos responsáveis pelos eventos, será acionado em breve para que a programação seja retomada. Segundo Urik Paiva, a verba do segundo plano de ações foi liberada e amanhã (9) haverá uma reunião para formar uma parceria de gestão da gibiteca entre o poder público e o Fórum. Urik afirma que nessa verba estão previstas as instalações de câmeras de segurança, a compra de imobiliário, de material multimídia, de selos eletromagnéticos que inibem os furtos, além do treinamento e da disponibilização de estagiários. “As ações deverão ser iniciadas ainda em junho”, garante o coordenador.
SERVIÇO
GIBITECA DE FORTALEZA
Aberta: De segunda à sexta, das 8 às 21h, e no sábado, das 9 às 12h e das 13 às 17h.
Onde: Biblioteca Dolor Barreira (av. da Universidade, 2572 – Benfica)
Outras info.: (85) 3105 1299
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
A Gibiteca de Fortaleza foi inaugurada em 2009 e teve os recursos aprovados no Orçamento Participativo de 2006. O acervo ainda não é guardado em estantes apropriadas e falta pessoal treinado propicia furtos.
Domitila Andrade
domitilaandrade@opovo.com.br
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