RONALDO CORREIA DE BRITO
Não escutei batuque de maracatu na Feira do Livro de Leipzig. Numa
das tardes, havia música num palco próximo, mas não atrapalhava as
leituras e conferências. Alguns alemães da nossa comitiva se queixaram,
porém o silêncio e a ordem davam o tom da Feira. Os auditórios,
numerosos e de vários tamanhos, situados em pontos estratégicos dos
pavilhões, eram abertos, sem qualquer proteção acústica. As pessoas
sentavam para ouvir os palestrantes e leitores, ficavam até o final ou
seguiam em frente.
Visitei apenas o Pavilhão 4, onde ficava o
stand do Brasil. Assustei-me com o gigantismo da Feira, espalhada em
cinco pavilhões. Dizem que a de Frankfurt é incomparavelmente maior.
Penso na trabalheira de organizar tudo isso. Acompanhei de perto a
engenharia brasileira, comandada pela Fundação Biblioteca Nacional, para
a homenagem de outubro, e também fiquei impressionado com o volume de
eventos.
Questiono a presença de atrações que não sejam os
livros e os escritores dentro do espaço das feiras e festas literárias.
Nunca ouvi dizer que no Rock in Rio houvesse livrarias ou palestras de
escritores famosos, junto com os shows musicais. Mas sempre que
organizam um evento literário, anunciam projeções de filmes, concertos,
shows, peças de teatro e por aí afora. Será que o livro não possui força
bastante para atrair um público leitor e que precisa do reforço de
artes paralelas?
As feiras de livros brasileiras são sempre
muito barulhentas, um pandemônio. No Recife, é costume botar cortejo de
maracatu para desfilar nos corredores do pavilhão. Vocês já escutaram os
trinta batuqueiros da Nação Porto Rico, percutindo gonguês, caixas e
bombos gigantes? É uma competição desleal. A voz do livro é sutil,
sussurrada, com ritmo e pausas. Precisa de silêncio. Justo o que não tem
nas nossas feiras. Os escritores gritam nos microfones para se fazerem
ouvir, competem com os ruídos de fora e de dentro, e com as forças que
tramam contra o livro. leia a matéria na integra AQUI
Fonte: Jornal O Povo
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