quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Cognição e Tecnologia: o que move a sociedade?


Por Ana Wanessa Bastos

COGNIÇÃO E TECNOLOGIA: 
O QUE MOVE A SOCIEDADE?

COGNIÇÃO

            Anterior a disciplina Cognição e Tecnologia não estudei, assim como, não ouvi falar sobre o termo cognição, ou teoria da cognição[1]. Por ser um campo de estudo complexo e inédito por minha pessoa, fiquei um tanto perdida em minhas reflexões e sobre o mesmo e me senti bastante “ perturbada” diante dos textos e dos vídeos vistos e discutidos em sala de aula.

            No presente texto, farei uma breve apresentação, por meio de fichamentos, comentários e apontamentos de sala de aula dos assuntos abordados sobre cognição, mente humana, interações humanas e buscando fazer relações com as tecnologias. Darei inicio pelas teorias de Piaget obre o desenvolvimento cognitivo e de Vigostik mostrando a importância da construção do ser humano a partir da sua interação com o outro.

            As terias de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo e de Vigostik sobre as construções psicológicas superiores onde mostra como a linguagem e o pensamento estão fortemente conectados. Serviram de base para a minha compreensão do desenvolvimento do ser humano a partir de suas interações com o mundo. Piaget elaborou sua teoria do desenvolvimento intelectual por estágios, cujo ponto de partida é a posição egocêntrica. A partir do egocentrismo percebeu que a inteligência se forma por meio de adaptações.

            Vigostik parte do principio de que ninguém é uma ilha. E que para se construir, o ser humano necessita dos outros. Interagir, trocar, partilhar, navegar para isso configura-se na linguagem, a grande ferramenta social de contato. Influenciado pelo discurso marxista [2]construiu suas teorias sobre as construções psicológicas superiores. Para ele é importante a interação, intermediação, internalização e zdp – zona de desenvolvimento proximal .

            Quando Vigotski falava que para melhorar o nível de aprendizagem é necessário mais do que o individuo agir sobre o meio, necessita interagir. Nesse sentido, Duarte (2004 apud Maturana) mostra que, ao partir das origens biológicas dos seres vivos, desde as origens do universo, Maturana nos faz refletir sobre a existência humana, como resultado de um acoplamento estrutural ontogênico, resultante de uma deriva natural, e fundamentado nas raízes biológicas da existência e nas relações sociais existentes e necessárias para a evolução da humanidade.

            Seguindo as teorias acima, de Vigostki e de Matura, Remeti de imediato o meu pensamento a época em que vivemos, na era da comunicação digital. Pois com o advento da Internet e a vida no ciberespaço devemos (re)pensar as relações sociais e culturais perante este “novo” espaço (espaço do ambiente digital). Visto que este,é o espaço do mito, da memória, da instantaneidade, da mediação e principalmente da interação coletiva.

            Atualmente já não imaginamos o mundo sem a Internet. Esta está mudando significativamente as relações humanas com uma velocidade inimaginável. A interação social a partir do compartilhamento e da criação colaborativa de informação é o que move a sociedade digital.  A exemplo disso, temos as mídias sociais, as redes sociais na Internet que estão mudando as formas de comunicação de maneira irreversível. É instigante refletir sobre a Internet e o ciberespaço e nós como sujeitos mediatizados. Pensar comoo individuo deve saber se posicionar dentro do contexto social em que viv[3]e.

            Pois bem, para Vigostki todo sujeito adquire seus conhecimentos a partir de interações interpessoais, de troca com o meio. As características individuais estão impregnadas das características com o coletivo. Para ele é a partir da interação com o outro que se constrói o conhecimento, através da língua, da linguagem, dos símbolos escolhidos como metáfora. Isto é[4], a interação é feita através da linguagem, que realiza a mediação do individuo com a cultura.

            Seguindo a mesma linha de pensamento Duarte (2004 apud Maturana) mostra que mesmo que haja uma estrutura genética e anatômica adequada para determinadas tarefas, caso não haja um convívio social adequado, não haverá a evolução resultante de um acoplamento estrutural ontogênico. Ou seja, o individuo necessita de Interagir com o meio e ter relações interpessoais bem sucedidas para a aquisição do esperado sucesso na sua caminhada para uma vida saudável e feliz.

COGNIÇÃO E TECNOLOGIA

            Os efeitos da tecnologia na cognição humana - exposição do cérebro as tecnologias, a substituição da memória do cérebro, tecnologia de “cognição incorporada”, robô com autoaprendizado, Inteligência Artificial, computação darwiniana cognitiva - modelos da computação inspirados na evolução, na noção de mutação e seleção natural,TEDTalks como o excedente cognitivo mudando o mundo dentro outros campos relacionados a cognição e tecnologia. Mas afinal, o que move a sociedade?

            A exposição do cérebro as tecnologias mais finas, vai refinando esse cérebro para funções cognitivas cada vez mais elaboradas e cada vez mais cedo. Um lado positivo dos efeitos da tecnologia na cognição humana é apresentado através da habilidade cognitiva. Esta é a habilidade de atenção, de raciocínio, habilidade de memória, habilidade de lidar com múltiplas imagens ao mesmo tempo compondo um panorama de imagens, possibilidade de trabalhar com informações de diferentes naturezas ao mesmo tempo, ou seja, trabalhar com imagem, com som e com texto e com animação.

            O vídeo ROBOSAPIENS, no qual foi visto em sala de aula, apresentou um robô com autoaprendizado, mostrou uma integração real entre o cérebro e algumas interfaces tecnológicas. Mostrou exemplos de utilização da leitura dos sons do cérebro, quando na execução de alguma atividade física, que passam a ser filtrados e servem como controle para atuar em próteses, movimentar mouses e até robots. Isto é, apresentou tecnologia de “cognição incorporada”.

            Por outro lado, esta exposição do cérebro as tecnologias também tem um lado negativo (de perda). Quando pensamos em substituição da memória do cérebro. O desenvolvimento de certas habilidades pelo uso de tecnologias significa a perda de outras. A disponibilidade de vários dispositivos eletrônicos de memória possibilitou a redução do uso da memória do cérebro. Há tantos gadgets que não precisamos mais usar a memória. ( ENTREVISTA com a profa. Maria Claudia UNB)
            A tecnologia digital, blogs, mapeamento de informações junto a generosidade humana e as interações sociais na Internet fez surgir TEDTalks um exemplo de excedente cognitivo mudando o mundo. TED “ideias disseminadas”. O excedente cognitivo e a Habilidade da população mundial para se voluntariar e colaborar em projetos grandes, por vezes globais. A Internet, e as tecnologias móveis nos permitem fazer mais do qeu consumir,ou seja, nos permite criar e compartilhar.

            Nesse sentido, a tecnologia permite o individuo Interagir com o meio e ter relações interpessoais bem sucedidas para a aquisição do esperado sucesso na sua caminhada para uma vida saudável e feliz. (como já mencionei anteriormente).

Curado (2007), no seu trabalho, Os desafios das ciências da mente, publicado naconferência no Colóquio Natureza e Ética: Desafios Constantes aos Homens, fala sobre a descrição da velocidade espantosa com que hoje aparecem novos conhecimentos na área da condição humana rapidamente se torna obsoleta. O espetáculo da mente humana foi desde sempre objeto de reflexões literárias, filosóficas e religiosas.

            De acordo com Curado (2007) Toda a cultura intelectual que, desde os Gregos, se acumulou tem o pressuposto[5] de que os seres humanos são fundamentalmente opacos ao olhar e à atenção uns dos outros. As decisões sobre como deve ser o futuro outorgam um relevo surpreendente à Ética. A regra é esta: quando se sabe tudo o que há a saber sobre um assunto, aumenta a importância do que fazer com esse assunto. Este é o campo da Ética. A transparência dos comportamentos[6] e das intenções que resulta das ciências da mente faz com que a Ética seja cada vez mais relevante na vida das sociedades.

REFERÊNCIA
Duarte, Glaucius Décio.Reflexões sobre as raízes biológicas do conhecimento. PGIE / UFRGS - PIE00027 - Trabalho 5 Glaucius Décio Duarte - 28/1/2004. Pdf
Lévy, Pierre.A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Loyola, 1998.
Mariluze Ferreira de Andrade e Silva. Filosofia da mente: Causalidade e a questão da vontade. CADERNOS Centro Universitário S. Camilo, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 48-58, jan./mar. 2005. pdf
Ricardo André Ferreira Martins. A porética da temporalidade em Santo Agostinho e Paul Ricoeur. R. Ciências Humanas, Frederico Westphalen, v. 11 n. 17 p. 57-100 Dez. 2010 pdf
Santos, Milton. Técnica, espaço, tempo: globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo: Hucitec, 1997.
Teixeira, João de Fernandes. Mentes e máquinas: uma introdução à ciência cognitiva / João de Fernandes Teixeira. Porto Alegre : Artes Médicas, 1998. Pdf
Vigotsky, Lev Semenovic. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Pdf




[1] A Teoria da Cognição de Santiago, elaborada por Humberto Maturana e Francisco Varela (Maturana,1998), diz que a cognição é resultante da interação de seres ou sistemas autopoiéticos. Segundo eles, sistema autopoiético é um sistema constituído como unidade, como uma rede de produção de componentes que em suas interações geram a mesma rede que os produz, e constituem seus limites como parte dele em seu espaço de existência.
[2] Discurso marxista onde postulava que tudo é histórico, fruto de um processo e que são as mudanças históricas na sociedade e na vida material que modificam a natureza humana em sua consciência e comportamento.
[3] Ciberespaço, redes sociais.
[4]Ainda que uma criança tenha biologicamente o poder de se desenvolver, se não interagir não se desenvolverá como poderia.
[5] Este pressuposto organiza todas as formas de sociedade.
[6] O paradoxo das relações entre as ciências da mente e a Ética no início do século XXI. Quando se sabe tudo o que há a saber, menos se sabe o que fazer com o assunto de que tanto se sabe.

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