Por Ana Wanessa Bastos
MORAES, Denis de. A ética comunicacional na Internet. Jun. [2000]. Disponível em < http://www.bocc.ubi.pt/pag/moraes-denis-etica-internet.pdf> Acesso em 26 Jun. 2012.
Apresentando um breve resumo a partir de fichamentos e comentários
do artigo A ética comunicacional na Internet, de Moraes (2000). Neste trabalho,
o autor faz uma análise das mudanças de paradigmas nas questões relacionadas a
ética comunicacional na Internet. Mostra que o fluxo interativo na grande rede favorece a emergência de
uma ética por interações, tendo como base o diálogo, a cooperação e a
participação e usuários.
Moraes(2000)
subdivide o trabalho em quatro tópicos: o cérebro planetário, a dialética dos
fluxos, vida comunitária por interações e cibercidadania e censura. O autor
mostra que as ocorrências descritas em seu artigo servem para ratificar que a
conformação universal e não-totalizável da Internet dificulta, porém não impede
os controles estritos, sejam eles territoriais, legais ou geopolíticos. Pois
bem, vejamos alguns fichamentos dos referidos
tópicos.
No
primeiro tópico, o cérebro planetário, Moraes (2000) discorre sobre a
Internet e os usuários. Denomina os usuários de atores comunicantes, visto que
estes produzem, pensam, analisam e combinam no ciberespaço. Recuero (2009), no
seu livro Redes sociais na Internet, trabalha com atores e conexões como
elementos principais das redes sociais. A autora classifica os usuários de atores sociais, pois
estes podem se apresentar na Internet por diversas formas.
Moraes
(2000) trabalha a inteligência coletiva nas infomídias interativas,
desterritorializada e descentralizada, que se contrapõe à cultura verticalizada
à qual tivemos que nos habituar. Apresenta o ciberespaço, lugar - não lugar
onde cada um é potencialmente emissor e receptor e mostra os usuários como
atores, onde estocam, processam, distribuem e atualizam dados e imagens
oriundos de múltiplos campos do conhecimento e que sendo assim, estes
libertam-se das estruturas autoritárias das mídias convencionais (televisão,
rádio e jornal).
De acordo
com Moraes (2000):
o ciberespaço disponibiliza,
em qualquer espaço-tempo, variadas atividades e expressões de vida. A
cibercultura mundializa visões díspares e modos de organização social
contrastantes, sem favorecer pensamentos únicos. Por fim, cabe à capacidade
cognitiva dos indivíduos determinar como se vão rearticular as conexões
globais.
O autor trabalha a imagem da Internet como um mega-sistema em cíclica
mutação e saudável desordem justifica a sua classificação de Babel cultural do
final do século XX. Ela
oferece-se à contemplação como um gigantesco mosaico, no qual quem decide o que
deve ser destacado e aproveitado no emaranhado de nós é o agente humano, por
afinidades e conveniências. O único imperativo categórico para
inserir-se no coletivo de cidadãos-usuários é estar conectado.
No segundo tópico, a dialética dos fluxos, Moraes (2000) fala que
usos imensuráveis da Internet refletem a complexidade psíquica, afetiva,
social, ética, cultural, econômica e político-ideológica do mundo
contemporâneo. Através de uma postura defensória da rede, afirma que a força
maior da Internet provém de interações diretas e interinfluências de toda ordem
e que não devemos encará-la como uma mercado paralelo e dissocia-lá das demais
mídias e conjunturas sociais. Temos que ver a Internet como um meio para
atingir metas maiores.
(...) Isolá-la
seria negar a utopia — essencial — de que podemos semear princípios interativos
e comunitários do ciberespaço no oceano informacional à nossa volta.
(MORAES,2000)
Moraes(2000)
julga perfeitamente viável entrosar os instrumentos
político-cultural-comunicacionais que o real e o virtual fornecem, como focos
abertos a mútuas alimentações, a interlocuções dialéticas e a energias
reivindicantes. Sem perder de vista que é no território físico, socialmente
reconhecido e vivenciado, que se concentram os grandes combates pelas
hegemonias e pela construção do imaginário do futuro.
No
terceiro tópico, a vida comunitária por
interações, o autor fala que o vínculo humano com a Internet remete a um
espaço virtual comum, no qual a existência prescinde de cadeias de comando. O
crescimento exponencial do ciberespaço está ligado justamente à peculiaridade
de constituir uma esfera pública não-sujeita a regulamentações exógenas. Com
isso, reforça-se a
evidência de que os estatutos éticos das comunidades virtuais se constroem no
interior de seus cosmos produtivos, por motivações cooperativas e
coordenações de qualidades e vocações individuais.
Moraes (2000) mostra a Internet, como sendo
uma projeção da inteligência humana, com interfaces cada vez mais próximas
entre as mentes e as tecnologias. O grande diferencial da Internet consiste no
fato de que as comunidades virtuais, enquanto corpos orgânicos, definem e
objetivam valores éticos e códigos informais de conduta. Tais regras não
provêm de fora, das estruturas de poder, e em nada se confundem com uma espada
de Dâmocles sobre as cabeças dos internautas. Devem ser aceitas por consenso e
adaptadas às singularidades, práticas e tradições dos grupos. Paul Mathias
refere-se à "criação ascendente de valores" em coletivos virtuais, na
medida em que elaboram coexistências regidas não mais por princípios verticais
e genéricos, e sim pela harmonização de perspectivas individuais no seio de
grupos afins A chamada "netiqueta". As relações humanas tornam-se
intercambiantes, o que favorece a reelaboração sistemática de premissas e raios
de competência.
Os grupos de discussão cultuam uma irrestrita liberdade de expressão,
sendo refratários à censura. Porém, estão sujeitos a idiossincrasias, desníveis
culturais e condutas desviantes. Ataques pessoais ou declarações ofensivas
normalmente não são tolerados. Nos casos graves ou reincidências, os
administradores das listas podem excluir os responsáveis.
No
quarto tópico, Cibercidadania e censura,
Moraes (2000) demonstra uma ter uma postura
positiva e defensória da Internet. Ratifica a defesa da liberdade de expressão
na Web. Apresenta as tentativas, por parte de alguns países, de controle
(territorial, legal ou geopolítico) da Internet, e (re)afirma que essas
tentativas constituem uma maneira drástica de restringir o acesso, sufocando os
direitos individuais e coletivos.
COMENTÁRIOS
Moraes (2000) em seu artigo
demonstra ter uma postura defensória da Internet. Mostra a rede por um ângulo
positivo, não esquecendo totalmente o ângulo negativo. Relata a importância dos
usuários como atores comunicantes e de como eles devem fazer o bom uso do que a
grande rede nos oferece. O autor mostra que no âmbito cibernético, inteiramente
diverso dos contextos não-virtuais e propício a modalidades comunicacionais
não-totalizantes e participativas cabe à capacidade cognitiva dos
indivíduos determinar como se vão rearticular as conexões globais.
É notório que a Internet nos
possibilita a tal liberdade de expressão e a nesse sentido nos liberta da visão
fechada somente as mídias tradicionais (televisão, rádio e jornal), as quais
não podemos interagir e ficamos “à mercê” de suas opiniões muitas vezes
formadoras e tendenciosas. Nesse sentido, a Internet nos oferece através do
ciberespaço novas visões e interações por meio das mídias contemporâneas – as mídias
digitais – os ciber-rádios, os ciberjornais, as ciberagências
publicitárias, os cibervídeos , as cibertelevisões e as redes sociais de um
modo geral.
Por outro lado, A Internet não é uma
esfera autônoma, não é mais um território sem lei como muitos pensam. A proteção legal está se expandindo e criando
jurisprudência. Já existem grupos estudando processos chamado de “Comunicação
Legal” amparado por princípios jurídicos que buscam nortear a prática da
comunicação nas relações eletrônicas. É um movimento que visa reorganizar a
“liberdade geral” para a “liberdade responsável”. Mas daí, entraremos em um
outra discussão.
Apesar de compartilhar da mesma
opinião do autor considero que demos ver a Internet por dois ângulos, utilizar
de um certo dualismo para melhor representar o certo e o errado e diferenciar o verdadeiro do falso. Contudo,
não devemos deixar de lado o poder fenomenal que a mega rede planetária exerce
perante a atual sociedade da comunicação digital, do ciberespaço e da
cibercultura. Mostra disso está nos 20
anos de evolução da Internet.
As grandes mudanças na estrutura de poder
social, através da possibilidade de gerar conteúdos (informações) e influenciar
pessoas e decisões, deixa de ser exclusividade dos grandes grupos
capitalizados, para se tornar comum a qualquer pessoa. Isso afeta grandes
lideres mundiais, pois ela traz consigo o poder da informação e da comunicações
através da Interação. Para Maffesoli (2003) “Comunicação e informação são
etiquetas em voga. Ambas
expressam conteúdos importantes da época atual.”
Daí quando Moraes(2000)
ratifica as tentativas de potencias mundiais, alguns países de restringir o
acesso a Internet, sufocando os direitos individuais e coletivos.
Como mencionei em um trabalho
anterior, atualmente já não imaginamos o mundo sem a Internet. É também, quase
impossível falar sobre Internet, sem falar em mídias de acesso, ou seja, mídias
de fluxo informacional e comunicacional. Bandeira (2005) afirma que a
propriedade da informação é o entorno da comunicação contemporânea (se
entendermos esta do ponto de vista do fluxo informacional).
Quanto a ética comunicacional na Internet, é instigante
(re)pensar as relações sociais e
culturais perante este novo espaço (espaço do ambiente digital).Vigostik (1896-1934) parte do principio de
que ninguém é uma ilha. E que para se construir, o ser humano necessita
dos outros. Interagir, trocar, partilhar, navegar para isso configura-se na
linguagem, a grande ferramenta social de contato. Segundo ele, melhorar o nível
de aprendizagem é necessário mais do que o individuo agir sobre o meio,
necessita interagir.
“Se quiseres que os deuses te sejam benévolos, deves venerar os deuses.
Se quiseres ser amado pelos amigos, deves beneficiar os amigos. Se desejares
ser honrado por uma cidade, deve ser útil à cidade. Se aspiraes ser admirado
por toda a Grécia, deves esforçar-te por fazer bem à Grécia”. (PRÓDICO)
É instigante refletir sobre a
Internet e o ciberespaço e nós como sujeitos mediatizados. Pensar como o
individuo deve saber se posicionar dentro do contexto social em que vive,
no caso na Internet. Ainda citando Vigostki (1896-1934), para o filósofo todo
sujeito adquire seus conhecimentos a partir de interações interpessoais, de
troca com o meio. As características individuais estão impregnadas das
características com o coletivo. Sendo assim, o individuo necessita de
Interagir com o meio e ter relações interpessoais bem sucedidas para a
aquisição do esperado sucesso na sua caminhada para uma vida saudável e feliz.
Curado (2007), no seu trabalho, Os desafios das ciências da
mente, publicado na conferência no Colóquio Natureza
e Ética: Desafios Constantes aos Homens, fala que toda a cultura intelectual que, desde os Gregos, se acumulou
tem o pressuposto de que os seres humanos são fundamentalmente opacos ao olhar
e à atenção uns dos outros. As decisões sobre como deve ser o futuro outorgam
um relevo surpreendente à Ética. A regra é esta: quando se sabe tudo o que há a
saber sobre um assunto, aumenta a importância do que fazer com esse assunto.
Este é o campo da Ética. A transparência dos comportamentos e das intenções que
resulta das ciências da mente faz com que a Ética seja cada vez mais relevante
na vida das sociedades.
Por
tanto, Moraes (2000) relata que no ponto nodal da simbiose real-virtual,
a Internet situa-se na base de criação de uma fronteira a um só tempo física e
abstrata. Física e tangível, porque sua infra-estrutura operacional é feita de
interfaces gráficas, de modems e de discos rígidos. Abstrata e intangível, pois
os conteúdos remetem à ordem da representação, da cognição e da emoção. MORAES, Denis de. A ética comunicacional na Internet. Jun. [2000]. Disponível em < http://www.bocc.ubi.pt/pag/moraes-denis-etica-internet.pdf> Acesso em 26 Jun. 2012.
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