sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Ética comunicacional na Internet

Por Ana Wanessa Bastos

            
             Apresentando um breve resumo a partir de fichamentos e comentários do artigo A ética comunicacional na Internet, de Moraes (2000). Neste trabalho, o autor faz uma análise das mudanças de paradigmas nas questões relacionadas a ética comunicacional na Internet. Mostra que o fluxo interativo na grande rede favorece a emergência de uma ética por interações, tendo como base o diálogo, a cooperação e a participação e usuários.
            Moraes(2000) subdivide o trabalho em quatro tópicos: o cérebro planetário, a dialética dos fluxos, vida comunitária por interações e cibercidadania e censura. O autor mostra que as ocorrências descritas em seu artigo servem para ratificar que a conformação universal e não-totalizável da Internet dificulta, porém não impede os controles estritos, sejam eles territoriais, legais ou geopolíticos. Pois bem, vejamos alguns fichamentos dos referidos tópicos.
            No primeiro tópico, o cérebro planetário, Moraes (2000) discorre sobre a Internet e os usuários. Denomina os usuários de atores comunicantes, visto que estes produzem, pensam, analisam e combinam no ciberespaço. Recuero (2009), no seu livro Redes sociais na Internet, trabalha com atores e conexões como elementos principais das redes sociais. A autora classifica os usuários de atores sociais, pois estes podem se apresentar na Internet por diversas formas.
            Moraes (2000) trabalha a inteligência coletiva nas infomídias interativas, desterritorializada e descentralizada, que se contrapõe à cultura verticalizada à qual tivemos que nos habituar. Apresenta o ciberespaço, lugar - não lugar onde cada um é potencialmente emissor e receptor e mostra os usuários como atores, onde estocam, processam, distribuem e atualizam dados e imagens oriundos de múltiplos campos do conhecimento e que sendo assim, estes libertam-se das estruturas autoritárias das mídias convencionais (televisão, rádio e jornal).
            De acordo com Moraes (2000):
o ciberespaço disponibiliza, em qualquer espaço-tempo, variadas atividades e expressões de vida. A cibercultura mundializa visões díspares e modos de organização social contrastantes, sem favorecer pensamentos únicos. Por fim, cabe à capacidade cognitiva dos indivíduos determinar como se vão rearticular as conexões globais.
O autor trabalha a imagem da Internet como um mega-sistema em cíclica mutação e saudável desordem justifica a sua classificação de Babel cultural do final do século XX. Ela oferece-se à contemplação como um gigantesco mosaico, no qual quem decide o que deve ser destacado e aproveitado no emaranhado de nós é o agente humano, por afinidades e conveniências. O único imperativo categórico para inserir-se no coletivo de cidadãos-usuários é estar conectado.
No segundo tópico, a dialética dos fluxos, Moraes (2000) fala que usos imensuráveis da Internet refletem a complexidade psíquica, afetiva, social, ética, cultural, econômica e político-ideológica do mundo contemporâneo. Através de uma postura defensória da rede, afirma que a força maior da Internet provém de interações diretas e interinfluências de toda ordem e que não devemos encará-la como uma mercado paralelo e dissocia-lá das demais mídias e conjunturas sociais. Temos que ver a Internet como um meio para atingir metas maiores.
(...) Isolá-la seria negar a utopia — essencial — de que podemos semear princípios interativos e comunitários do ciberespaço no oceano informacional à nossa volta. (MORAES,2000)
                        Moraes(2000) julga perfeitamente viável entrosar os instrumentos político-cultural-comunicacionais que o real e o virtual fornecem, como focos abertos a mútuas alimentações, a interlocuções dialéticas e a energias reivindicantes. Sem perder de vista que é no território físico, socialmente reconhecido e vivenciado, que se concentram os grandes combates pelas hegemonias e pela construção do imaginário do futuro.
                        No terceiro tópico, a vida comunitária por interações, o autor fala que o vínculo humano com a Internet remete a um espaço virtual comum, no qual a existência prescinde de cadeias de comando. O crescimento exponencial do ciberespaço está ligado justamente à peculiaridade de constituir uma esfera pública não-sujeita a regulamentações exógenas. Com isso, reforça-se a evidência de que os estatutos éticos das comunidades virtuais se constroem no interior de seus cosmos produtivos, por motivações cooperativas e coordenações de qualidades e vocações individuais.
Moraes (2000) mostra a Internet, como sendo uma projeção da inteligência humana, com interfaces cada vez mais próximas entre as mentes e as tecnologias. O grande diferencial da Internet consiste no fato de que as comunidades virtuais, enquanto corpos orgânicos, definem e objetivam valores éticos e códigos informais de conduta. Tais regras não provêm de fora, das estruturas de poder, e em nada se confundem com uma espada de Dâmocles sobre as cabeças dos internautas. Devem ser aceitas por consenso e adaptadas às singularidades, práticas e tradições dos grupos. Paul Mathias refere-se à "criação ascendente de valores" em coletivos virtuais, na medida em que elaboram coexistências regidas não mais por princípios verticais e genéricos, e sim pela harmonização de perspectivas individuais no seio de grupos afins A chamada "netiqueta". As relações humanas tornam-se intercambiantes, o que favorece a reelaboração sistemática de premissas e raios de competência.
Os grupos de discussão cultuam uma irrestrita liberdade de expressão, sendo refratários à censura. Porém, estão sujeitos a idiossincrasias, desníveis culturais e condutas desviantes. Ataques pessoais ou declarações ofensivas normalmente não são tolerados. Nos casos graves ou reincidências, os administradores das listas podem excluir os responsáveis.
                        No quarto tópico, Cibercidadania e censura, Moraes (2000) demonstra uma ter uma postura positiva e defensória da Internet. Ratifica a defesa da liberdade de expressão na Web. Apresenta as tentativas, por parte de alguns países, de controle (territorial, legal ou geopolítico) da Internet, e (re)afirma que essas tentativas constituem uma maneira drástica de restringir o acesso, sufocando os direitos individuais e coletivos.

COMENTÁRIOS

            Moraes (2000) em seu artigo demonstra ter uma postura defensória da Internet. Mostra a rede por um ângulo positivo, não esquecendo totalmente o ângulo negativo. Relata a importância dos usuários como atores comunicantes e de como eles devem fazer o bom uso do que a grande rede nos oferece. O autor mostra que no âmbito cibernético, inteiramente diverso dos contextos não-virtuais e propício a modalidades comunicacionais não-totalizantes e participativas cabe à capacidade cognitiva dos indivíduos determinar como se vão rearticular as conexões globais.
            É notório que a Internet nos possibilita a tal liberdade de expressão e a nesse sentido nos liberta da visão fechada somente as mídias tradicionais (televisão, rádio e jornal), as quais não podemos interagir e ficamos “à mercê” de suas opiniões muitas vezes formadoras e tendenciosas. Nesse sentido, a Internet nos oferece através do ciberespaço novas visões e interações por meio das mídias contemporâneas – as mídias digitais – os ciber-rádios, os ciberjornais, as ciberagências publicitárias, os cibervídeos , as cibertelevisões e as redes sociais de um modo geral.   
            Por outro lado, A Internet não é uma esfera autônoma, não é mais um território sem lei como muitos pensam. A proteção legal está se expandindo e criando jurisprudência. Já existem grupos estudando processos chamado de “Comunicação Legal” amparado por princípios jurídicos que buscam nortear a prática da comunicação nas relações eletrônicas. É um movimento que visa reorganizar a “liberdade geral” para a “liberdade responsável”. Mas daí, entraremos em um outra discussão. 
            Apesar de compartilhar da mesma opinião do autor considero que demos ver a Internet por dois ângulos, utilizar de um certo dualismo para melhor representar o certo e o errado e  diferenciar o verdadeiro do falso. Contudo, não devemos deixar de lado o poder fenomenal que a mega rede planetária exerce perante a atual sociedade da comunicação digital, do ciberespaço e da cibercultura. Mostra disso está nos  20 anos de evolução da Internet.
            As grandes mudanças na estrutura de poder social, através da possibilidade de gerar conteúdos (informações) e influenciar pessoas e decisões, deixa de ser exclusividade dos grandes grupos capitalizados, para se tornar comum a qualquer pessoa. Isso afeta grandes lideres mundiais, pois ela traz consigo o poder da informação e da comunicações através da Interação. Para Maffesoli (2003) “Comunicação e informação são etiquetas em voga. Ambas expressam conteúdos importantes da época atual.” Daí quando Moraes(2000) ratifica as tentativas de potencias mundiais, alguns países de restringir o acesso a Internet, sufocando os direitos individuais e coletivos.
            Como mencionei em um trabalho anterior, atualmente já não imaginamos o mundo sem a Internet. É também, quase impossível falar sobre Internet, sem falar em mídias de acesso, ou seja, mídias de fluxo informacional e comunicacional. Bandeira (2005) afirma que a propriedade da informação é o entorno da comunicação contemporânea (se entendermos esta do ponto de vista do fluxo informacional).
            Quanto a ética comunicacional na Internet, é instigante (re)pensar  as relações sociais e culturais perante este novo espaço (espaço do ambiente digital).Vigostik (1896-1934) parte do principio de que ninguém é uma ilha. E que para se construir, o ser humano necessita dos outros. Interagir, trocar, partilhar, navegar para isso configura-se na linguagem, a grande ferramenta social de contato. Segundo ele, melhorar o nível de aprendizagem é necessário mais do que o individuo agir sobre o meio, necessita interagir.  
“Se quiseres que os deuses te sejam benévolos, deves venerar os deuses. Se quiseres ser amado pelos amigos, deves beneficiar os amigos. Se desejares ser honrado por uma cidade, deve ser útil à cidade. Se aspiraes ser admirado por toda a Grécia, deves esforçar-te por fazer bem à Grécia”. (PRÓDICO)
            É instigante refletir sobre a Internet e o ciberespaço e nós como sujeitos mediatizados. Pensar como o individuo deve saber se posicionar dentro do contexto social em que vive, no caso na Internet. Ainda citando Vigostki (1896-1934), para o filósofo todo sujeito adquire seus conhecimentos a partir de interações interpessoais, de troca com o meio. As características individuais estão impregnadas das características com o coletivo. Sendo assim, o individuo necessita de Interagir com o meio e ter relações interpessoais bem sucedidas para a aquisição do esperado sucesso na sua caminhada para uma vida saudável e feliz.
            Curado (2007), no seu trabalho, Os desafios das ciências da mente, publicado na conferência no Colóquio Natureza e Ética: Desafios Constantes aos Homens, fala que toda a cultura intelectual que, desde os Gregos, se acumulou tem o pressuposto de que os seres humanos são fundamentalmente opacos ao olhar e à atenção uns dos outros. As decisões sobre como deve ser o futuro outorgam um relevo surpreendente à Ética. A regra é esta: quando se sabe tudo o que há a saber sobre um assunto, aumenta a importância do que fazer com esse assunto. Este é o campo da Ética. A transparência dos comportamentos e das intenções que resulta das ciências da mente faz com que a Ética seja cada vez mais relevante na vida das sociedades.
            Por tanto, Moraes (2000) relata que no ponto nodal da simbiose  real-virtual, a Internet situa-se na base de criação de uma fronteira a um só tempo física e abstrata. Física e tangível, porque sua infra-estrutura operacional é feita de interfaces gráficas, de modems e de discos rígidos. Abstrata e intangível, pois os conteúdos remetem à ordem da representação, da cognição e da emoção. 

MORAES, Denis de. A ética comunicacional na Internet. Jun. [2000]. Disponível em < http://www.bocc.ubi.pt/pag/moraes-denis-etica-internet.pdf> Acesso em 26 Jun. 2012.

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